quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Feliz 2011!

Minha tão aguardada viagem para o Chile trouxe muita inspiração e boas surpresas.
Fui visitar o “Museo de la Moda” e conhecer um pouco da história da família Yarur Bascuñán.
Jorge Yarur Banna, próspero empresário da indústria têxtil chilena casou-se com Raquel Bascuñán Cugnoni no fim dos anos 50. Só de lua-de-mel foram oito meses viajando pela Europa e Estados Unidos, onde Raquel aproveitava para rechear seu guarda-roupa com o melhor da alta-costura mundial. A linda jovem, que sempre foi amante das artes e da moda, ficou famosa na alta sociedade latino-americana por seu bom gosto e sofisticação.
Construíram uma casa de 1.500 m2 de estilo modernista influenciada por Frank Lloyd Wright, no então afastado bairro de Vitacura, rodeada por um jardim de 10.000m2. Foi ali que cresceu Jorge Yarur Bascuñán, filho único do casal.
Quando Jorge Yarur Banna faleceu, sua esposa Raquel expressou ao herdeiro o desejo de que aquela casa se transformasse num museu com suas obras de arte e que contasse a história da família. Quando sua mãe veio a falecer no começo dos anos 90, Jorge deu-se conta de que havia herdado a maior fortuna do Chile, a mansão da família e o sonho da sua mãe, mas como transformar aquela casa num museu?
Começou a viajar pelo mundo conhecendo os mais importantes museus, curadores, armazenagem, manejo e maneiras de conservação de obras de arte. Foi então que deu-se conta de que a melhor maneira de contar a história de sua família seria criar um Museu da Moda, a começar pelo acervo de roupas deixadas por sua cuidadosa mãe, e passou a garimpar peças nos mais importantes leilões do mundo.
A mansão foi toda reformada. Salas e quartos estão impecavelmente mobiliados como quando a família ainda morava lá. Mas tudo foi devidamente protegido por grossos vidros que conservam papeis de parede, madeira das portas e todas as áreas de visitação viraram vitrines para os visitantes.
A piscina interna da casa foi transformada em salas de exibição, com sistema de iluminação por fibra ótica, segundo normas internacionais de conservação que impedem que as moléculas das fibras dos tecidos se desgastem, geram menos calor e radiação ultravioleta e permitem maior fidelidade de cor. Há um poderoso sistema de ar condicionado e as grandes janelas que dão para o jardim receberam uma película de filme que a gente nem percebe que lá fora é dia e o sol está a pino.
O Museu conta hoje com mais de 10 mil peças, entre herança, doações e aquisições de Jorge Yarur, que ficou conhecido no mundo dos colecionadores da Julien´s Auctions, especializada em venda de artigos hollywoodianos, por inflacionar o mercado dos leilões. Nenhum Museu público consegue bater os altos lances que o chileno, enquanto empresa privada, dá por peças como o vestido que Lady Di usou em sua primeira aparição pública ao lado do Príncipe Charles, o sutiã que Jean-Paul Gaultier desenhou para Madonna, a luva de Swarowski que virou marca registrada de Michael Jackson, todas atualmente no seu acervo em Santiago.

A mostra que visitei chama-se “Volver a los 80” e faz uma restrospectiva de toda a década com a exibição de um video relembrando os clipes de B-52’s e entrevistando personalidades que foram importantes na época na sociedade chilena. Tudo ambientado com as músicas que dançamos nos bailinhos até gastar a sola do bamba quadriculado pintado com tinta fluorescente. No corredor que dá acesso as salas de exibição, cópias de algumas capas de revistas da década com direito a uma manchete em uma delas: “Conheça o novo amor de Roberto Carlos”, ao lado de uma foto de Miriam Rios ainda garota em 1982.
Das peças expostas, além das já citadas, a jaqueta que o Michael Jackson usou na capa da Revista LIFE, um arsenal de peças compradas/doadas/emprestadas por Billy Idol e por integrantes das bandas U2 e Duran Duran. Algumas peças de importantes coleções de Claude Montana, Balenciaga, Christian Lacroix, Yves Saint-Laurent, além dos japoneses que influenciaram tanto os anos 80: Issey Miyake, Comme des Garçons, Yohji Yamamoto.

Londres vem bem representada com uma sala toda dedicada a Vivienne Westwood.


Emocionante, de encher os olhos.
Depois de encher os olhos foi a vez de encher a barriga. A garagem da casa foi transformada em loja com objetos de arte e design, acessórios de estilistas chilenos e lembranças do Museu, além do restaurante em que se pode pedir um dos pratos do dia sem medo de errar, e você também sai de lá com o estômago feliz.
Deixei o museu com muita esperança. Esperança de que 2011 será um ano maravilhoso.
Saí com vontade de mandar uma mensagem ao Sr. Jorge Yarur Bascuñán. De parabenizá-lo pela iniciativa e pelos 10 anos em que trabalhou incansavelmente para a perfeita realização de seu sonho. Que também passou a ser o meu. Que vira um pouco da gente quando se sai de lá pensando em doar peças para o acervo, querendo trabalhar na restauração , biblioteca, restaurante, curadoria, qualquer lugar para se estar perto daquela maravilha. Parabenizá-lo por fazer uma coisa tão memorável para o seu país.
E jurando ao papai do céu que assim que eu ganhar na Mega Sena vou fazer o mesmo pelo meu país.
Em tempo: no site do Museu é possível ver um pouco da história, da Mostra e ainda fazer um passeio virtual pelo jardim e por uma das salas de exposição.
www.museodelamoda.cl
Fotos gentilmente cedidas por Luis Miranda (www.vistelacalle.com)