segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Desfazendo um terrível mal entendido.

Recentemente fiz um comentário na minha página do facebook a respeito de uma notícia de que uma galinha sofria “bullying” no galinheiro por não ter penas devido a um problema genético. No dia em que li essa notícia minha filha havia ido para a escola com o vestido de “Branca de Neve” que ela pediu que eu fizesse pra ela. Chegou em casa chorando dizendo que alguns amigos a acusaram de estar “fantasiada”. Tentei acalmá-la dizendo que aquele era o vestido que a Branca de Neve usava na vida, pra Branca de Neve aquilo não era uma fantasia. Citei o livro “Tudo bem ser diferente”, de Todd Parr, que adoramos ler antes de dormir. Mas nada do que eu dizia convencia minha pequena que a partir desse dia começou a pensar bem nas roupas que vai colocar pela manhã antes de ir pra escola. Quem a conhece sabe bem o quanto ela é manhosa. Típico xilique bobo, inútil. Coisa besta que criança faz pra chamar a atenção da mãe.

Concordo que usei indevidamente a palavra “bullying”, termo muito sério que já foi banalizado, e eu acabei utilizando de forma banal o que gerou vários comentários de amigos contando casos semelhantes que sofreram na época de escola, aquelas coisas cruéis que crianças fazem na ingenuidade. Ainda comentei que acho bom que minha filha viva esse tipo de situação pois só assim a gente aprende a se defender na vida.

O fato é que um comentário que a meu ver era a favor acabou gerando um mal entendido dentro da escola da minha filha. Culpa “do poder das redes sociais” ou culpa desse meu jeito desbocado ou “quem mandou ficar expondo sua vida no facebook?” Lembrei do Chico Buarque: “Ouça um bom conselho/ Que eu lhe dou de graça… Delete duas vezes antes de postar”.

Dona Isabel ficou chateada, ela procura sempre defender as meninas. E imagino que devo ter chateado também Dona Margarida, a Chistiane, a Ana Rita, a Simone, a Pati. Então estou aqui oficialmente me retratando.

Eu AMO a escola onde minha filha estuda. Sou a mais entusiasta, vivo falando bem e indicando pra todo mundo. É a escola dos meus sonhos. Sou capaz de abrir mão de várias coisas na minha vida pra poder manter minha filha estudando lá.

O que eu gostaria que as pessoas entendessem é que uma situação como essa poderia ter acontecido em qualquer lugar: na pracinha, no clube, no parque, com filhos de amigos, mas aconteceu na escola. É um fato da vida e foi um fato tão isolado que as professoras nem viram acontecer, ao contrário não tenho dúvida de que a teriam defendido.

Dona Isabel, sei que você não frequenta blogs nem redes sociais (continue assim, não espero que você mude, por favor). Mas preciso te dizer publicamente que eu desde a mais tenra idade fui uma criança gorda. Sofri todo o tipo de consequência que uma criança gorda sofre. E aprendi a me defender. Na adolescência isso já não era mais um problema para mim. Nunca deixei de ter amigos nem de ser querida por muitos.

Também sempre gostei de me vestir de maneira diferente, estranha, incomodava as pessoas. Minha mãe dizia que eu “desafiava a moda”. Aquilo me incitava a querer desafiar cada vez mais. Acho que talvez por isso eu tenha escolhido a profissão que tenho hoje, continuo desafiando a moda todos os dias. Como sempre levei “na esportiva”, os colegas que mais me provocaram por conta das minhas roupas estranhas foram os que se tornaram meus melhores amigos mais tarde. Alguns são amigos até hoje. Porque eu soube enfrentar, porque desde cedo aprendi a me defender.

Olha, dona Isabel, se algum dia acontecer alguma situação parecida com a Ornella na escola novamente você tem a minha autorização de assistir de longe pra ver se ela aprende a ter argumentos pra se defender verbalmente, antes de interferir. Ela vai ter que passar por isso e se não for na escola vai ser no clube, na pracinha, no parque, no trabalho futuramente, enfim, na vida. E é por isso que escolhi essa maravilhosa escola pra minha filha, porque sei que aí dentro ela está protegida e porque tenho confiança plena de que vocês estão ajudando a desenvolver seres humanos tolerantes, generosos, responsáveis e educados.